Versão para profissionais de saúde
-
-
Prevenção e Fatores de Risco
- O fumo e o álcool são os principais fatores de risco, sendo que o fumo aumenta em 10 vezes a chance de desenvolver o câncer de laringe.
- Excesso de gordura corporal (sobrepeso e obesidade) aumenta o risco de câncer de laringe.
- Infecção pelo vírus HPV
- Exposição a óleo de corte, amianto, poeira de madeira, de couro, de cimento, de cereais, têxtil, formaldeído, sílica, fuligem de carvão, solventes orgânicos e agrotóxicos está associada ao desenvolvimento de câncer de laringe. Os trabalhadores da agricultura e criação de animais, indústria têxtil, de couro, metalúrgica, borracha, construção civil, oficina mecânica, fundição, mineração de carvão, assim como cabeleireiros, carpinteiros, encanadores, instaladores de carpete, moldadores e modeladores de vidro, oleiros, açougueiros, barbeiros, mineiros, pintores e mecânicos de automóveis podem apresentar risco aumentado de desenvolvimento da doença.
- Estresse e mau uso da voz também são prejudiciais.
Em relação ao mecanismo que explica a relação entre álcool e câncer de laringe, as evidências mostram que o acetaldeído, principal e mais tóxico metabólito do álcool, interrompe a síntese e o reparo do DNA e, portanto, pode favorecer a carcinogênese. Além disso, maior exposição ao etanol induz o estresse oxidativo por meio do aumento da produção de oxigênio com potencial reativo e genotóxico. Sugere-se, ainda, que o álcool possa funcionar como solvente, favorecendo a penetração celular de carcinógenos dietéticos ou ambientais (por exemplo, o tabaco) ou interferindo nos mecanismos de reparo do DNA. Pessoas que consomem altas quantidades de bebidas alcoólicas também podem ter dietas carentes de nutrientes essenciais, como o folato, tornando os tecidos-alvo mais suscetíveis aos efeitos carcinogênicos do álcool.
O excesso de gordura corporal é definido pelo IMC, circunferência de cintura e relação cintura/quadril elevados. Os mecanismos específicos para descrever sua relação com maior risco de câncer de laringe ainda não são esclarecidos. No entanto, o excesso de gordura corporal está associado a alterações metabólicas e endócrinas, como hiperinsulinemia e níveis elevados de estrogênio. A insulina e o estrogênio estimulam a multiplicação celular e inibem a apoptose, levando à proliferação celular anormal. Além disso, a obesidade também estimula a resposta inflamatória, favorecendo a carcinogênese.
A associação do vírus HPV vem sendo descrita com os tumores de hipofaringe, mas em menor proporção quando comparado aos tumores de orofaringe.
-
Sinais e sintomas
Os sintomas variam de acordo com o local acometido pelo tumor, ou seja, tumores da região supraglótica se apresentam com disfagia, odinofagia e muitas vezes linfonodomegalias cervicais.
Já os tumores da glote se apresentam com disfonia, sendo diagnosticados mais precocemente e em estágios iniciais. Os tumores subglóticos apresentam sintomatologia em estágio avançado quando invadem a glote, supraglote ou estruturas adjacentes.
-
Detecção precoce
As estratégias para a detecção precoce do câncer são o diagnóstico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença) e o rastreamento (aplicação de exames numa população assintomática, aparentemente saudável), com o objetivo de identificar lesões sugestivas de câncer, e, dessa forma, encaminhar os pacientes com resultados alterados para investigação diagnóstica e tratamento (WHO, 2007).
Diagnóstico Precoce
A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de apresentação do câncer (WHO, 2017). Nessa estratégia, destaca-se a importância de a população e os profissionais estarem aptos para o reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos de câncer, bem como haver acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde.
Rastreamento
O rastreamento do câncer é uma estratégia dirigida a um grupo populacional específico em que o balanço entre benefícios e riscos dessa prática é mais favorável, com maior impacto na redução da mortalidade. Os benefícios são o melhor prognóstico da doença, com tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Os riscos ou malefícios incluem os resultados falso-positivos, que geram ansiedade e excesso de exames; os resultados falso-negativos, que resultam em falsa tranquilidade para o paciente; o sobrediagnóstico e o sobretratamento, relacionados à identificação de tumores de comportamento indolente (diagnosticados e tratados sem que representem uma ameaça à vida) e os possíveis riscos do teste elegível (Brasil, 2010).
Não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de laringe traga mais benefícios do que riscos e, portanto, ele não é atualmente recomendado (WHO, 2007; NCI, 2021).
Já o diagnóstico precoce desse tipo de câncer deve ser buscado por meio da investigação dos sinais e sintomas mais comuns (NICE, 2021).
Os sintomas estão diretamente ligados à localização da lesão. Assim, a dor de garganta sugere tumor supraglótico, e rouquidão indica tumor glótico ou subglótico. O câncer supraglótico geralmente é acompanhado de outros sinais, como alteração na qualidade da voz, disfagia leve (dificuldade de engolir) e sensação de "caroço" na garganta. Nas lesões avançadas das cordas vocais, além da rouquidão, podem ocorrer dor na garganta, disfagia e dispneia.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento. Cadernos de Atenção Primária, n. 29. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_atencao_primaria_29_rastreamento.pdf. Acesso em: 25 jul. 2023.
NATIONAL CANCER INSTITUTE (NCI). Cancer types. Disponível em: https://www.cancer.gov/types Acesso em: 18 ago. 2023.
NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CARE EXCELLENCE (NICE). Guideline Suspected cancer: recognition and referral. Published: 23 June 2015. Last updated: 29 January 2021 Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/ng12 Acesso em: 17 ago. 2023.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Early detection. Cancer control: knowledge into action: WHO guide for effective programmes, module 3. Geneva: WHO, 2007. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/43743/9241547338_eng.pdf?sequence=1. Acesso em: 25 jul. 2023.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guide to cancer early diagnosis. Geneva: WHO; 2017. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241511940. Acesso em: 25 jul. 2023.
-
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por meio do exame clínico com a laringoscopia, que pode ser direta e indireta (espelho de Garcia, laringoscópio rígido ou flexível).
Caso seja visualizada alguma lesão suspeita e seja possível a biópsia, esta deve ser feita, pois o diagnóstico precoce contribui para um melhor resultado oncológico. Caso não seja possível a realização da biópsia durante a laringoscopia, o paciente deve ser encaminhado para um centro onde a biópsia será feita sob anestesia geral e demais condições necessárias.
A tomografia computadorizada da laringe traz informações importantes quanto à extensão das estruturas comprometidas, bem como auxilia no diagnóstico diferencial com lesões benignas.
-
Classificação e estadiamento
O estadiamento desses tumores é realizado de acordo com o subsítio anatômico (supralgote, glote e subglote) de acordo com a 8º edição do TNM da AJCC.
-
Tratamento
O tratamento do câncer de laringe depende do estágio da doença e também das condições clínicas do paciente. Normalmente em estágios mais iniciais pode ser empregada a radioterapia localizada ou cirurgias menores (endoscópicas e cirurgias parciais). Em estágios mais avançados, dependendo da extensão dos tumores, alguns protocolos de quimioterapia e radioterapia têm indicação, com resultados satisfatórios do ponto de vista oncológico e funcional. Porém, para tumores mais avançados a laringectomia total associada à radioterapia ainda é o tratamento de escolha com melhor resultado oncológico, mesmo diante de sequelas funcionais, como a perda da voz laríngea e da presença do traqueostoma definitivo. Nesses casos, existe a possibilidade da reabilitação desses pacientes (voz esofágica, eletrolaringe ou com próteses traqueo-esofágicas). Mas para alcançar bons resultados oncológicos e funcionais é importante que o paciente seja avaliado por um profissional especializado e que tenha oportunidade de fazer seu tratamento em um centro com equipe multidisciplinar.
-
Acompanhamento pós tratamento
Após o tratamento esses pacientes devem ser acompanhados no consultório onde será feito o exame clínico e poderão ser solicitados exames complementares. No primeiro ano pós-tratamento o controle será trimestral, passando a quadrimestral no 2º ano, semestral no 3º e anual no 4º. Após 5 anos sem evidência de doença o paciente receberá alta do controle ambulatorial.
-
Prevenção e Fatores de Risco