Versão para profissionais de saúde
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Prevenção e Fatores de Risco
- História familiar - mulheres com história familiar de câncer de ovário, especialmente em parentes de primeiro grau, e aquelas com predisposição herdada para câncer de ovário, como mutação nos genes BRCA 1 ou BRCA 2, possuem risco elevado de desenvolvimento de câncer de ovário.
- Endometriose.
- Obesidade - No geral, existem fortes evidências de que a via mediada por hormônios sexuais é um mecanismo importante de associação entre obesidade e alguns tipos de câncer. Pessoas com excesso de gordura corporal produzem hormônios sexuais em maior quantidade, como o grupo dos estrogênios, androgênios e progesterona.
- Nas mulheres após a menopausa, o tecido adiposo é o principal produtor de estrogênio. A hiperinsulinemia e o aumento do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), também causados pelo excesso de gordura corporal, provocam a produção elevada de estradiol em mulheres e homens, e de testosterona em algumas mulheres. Além disso, reduz a secreção de globulina ligadora de hormônios sexuais pelo fígado, contribuindo para os níveis elevados destes hormônios no corpo.
- Mulheres que trabalham expostas a asbestos (amianto) ou a raios X e gama apresentam risco aumentado de câncer de ovário.
Fatores que estão relacionados à redução do risco de câncer de ovário:
- Contraceptivos orais - O grau de redução do risco varia de acordo com a duração do uso de contraceptivos orais e o tempo desde o último uso. Para um a quatro anos de uso de contraceptivos orais, a redução do risco é de 22%. Para 15 ou mais anos de uso, a redução do risco é de 56%. A redução do risco persistiu por mais de 30 anos após a descontinuidade do uso, mas o grau de redução foi atenuado com o tempo. A redução do risco por cinco anos de uso de contraceptivos orais foi de 29% para mulheres que interromperam o uso há menos de 10 anos e diminuiu para 15% para mulheres que interromperam o uso entre 20 a 29 anos atrás. Dez anos de uso reduziram a incidência de câncer antes dos 75 anos de 1,2 para 0,8 por 100 usuárias e reduziram a mortalidade de 0,7 para 0,5 por 100 usuárias.
- Laqueadura tubária
- Multiparidade
- Salpingooforectomia bilateral
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Detecção precoce
As estratégias para a detecção precoce do câncer são o diagnóstico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença) e o rastreamento (aplicação de teste ou exame numa população assintomática, aparentemente saudável, com o objetivo de identificar lesões sugestivas de câncer e, a partir daí, encaminhar os pacientes com resultados alterados para investigação diagnóstica e tratamento) (WHO, 2007).
Diagnóstico precoce
A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de apresentação do câncer (WHO, 2017). Nessa estratégia, destaca-se a importância de que a população e os profissionais estejam aptos para o reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos de câncer, bem como o acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde.
Rastreamento
O rastreamento do câncer é uma estratégia dirigida a um grupo populacional específico em que o balanço entre benefícios e riscos dessa prática é mais favorável, com maior impacto na redução da mortalidade. Os benefícios são o melhor prognóstico da doença, com tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Os riscos ou malefícios incluem os resultados falso-positivos, que geram ansiedade e excesso de exames; os resultados falso-negativos, que resultam em falsa tranquilidade para o paciente; o sobrediagnóstico e o sobretratamento, relacionados à identificação de tumores de comportamento indolente (diagnosticados e tratados sem que representem uma ameaça à vida) e os possíveis riscos do teste elegível (Brasil, 2010).
Não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de ovário traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado (WHO, 2007; USTaskForce, 2021; NHS, 2021).
Já o diagnóstico precoce desse tipo de câncer é possível em apenas parte dos casos, pois a maioria só apresenta sinais e sintomas em fases mais avançadas da doença. Os sinais e sintomas mais comuns que devem ser investigados são (NICE, 2021):
- Ascite, massa abdominal ou pélvica
- Distensão abdominal persistente
- Perda de apetite e peso
- Dor pélvica ou abdominal
- Mudança de hábitos intestinais e/ou urinários
Referências
NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CARE EXCELLENCE. NICE guideline Suspected cancer: recognition and referral. Published: 23 June 2015. Last updated: 29 January 2021 Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/ng12 Acesso em: 23 ago. 2023.
NHS Screening Programmes in England: 2017 to 2018. Disponível em: https://www.gov.uk/government/publications/nhs-screening-programmes-annu... Acesso em: 23 ago. 2023.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Early detection. Geneva: WHO, 2007. (Cancer control: knowledge into action: WHO guide for effective programmes, module 3). Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/43743/9241547338_eng.pd.... Acesso em: 23 ago. 2023.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guide to cancer early diagnosis. Geneva: World Health Organization; 2017. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/254500. Acesso em: 15 ago. 2023.
USTaskForce. Recommendation Statement of Ovary Cancer in Adults: Screening. US: TaskForce Preventive Services, 2018. Disponível
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Sinais e sintomas
Na fase inicial, o câncer de ovário não causa sintomas específicos. À medida que o tumor cresce, pode causar pressão, dor ou distensão abdominal, dor nas costas ou pernas; náusea, indigestão, gases, prisão de ventre, diarreia, falta de apetite, desejo de urinar com mais frequência, cansaço constante, ascite e/ou massa palpável no abdome.
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Diagnóstico
Avaliação inicial – mulheres com sintomas e achados sugestivos de câncer de ovário devem ser avaliadas com exame físico ginecológico e de imagem da pelve. Uma vez identificada massa anexial, a avaliação para excluir malignidade inclui história clínica, exame físico, estudos de imagem (Ultrassonografia transvaginal com doppler, Tomografia Computadorizada de abdome e pelve, Ressonância Nuclear Magnética de Abome e Pelve) e exames laboratoriais para avaliar os marcadores tumorais (CA 125, CEA, Beta-hCG, Alfa-fetoproteína).
Avaliação cirúrgica – realizada se existir suspeição suficiente de câncer de ovário.
Exames de abdome e pelve – Tomografia Computadorizada ou Ressonância Nuclear Magnética auxiliam a identificar a presença de ascite, localização e tamanho do tumor e a extensão da doença para linfonodos, peritônio e outros órgãos. Exame fundamental quando há suspeita de disseminação intra-abdominal.
Exame de Tórax – raios x ou tomografia computadorizada auxiliam na detecção de derrame pleural, presença de metástases pulmonares ou linfonodomegalia mediastinal.
Exame Histopatológico – o diagnóstico definitivo é histopatológico. O estadiamento para câncer de ovário é realizado através da cirurgia.
Essa avaliação é realizada após a cirurgia, que consiste em inicialmente retirar o ovário, entregar para o patologista realizar a congelação peri-operatória e em se confirmando câncer, realiza-se a cirurgia completa com: Lavado Peritoneal, Histerectomia Total Abdominal, Salpingooforectomia Bilateral, Linfadenectomias Pélvicas e Retroperitoneal, Omentectomia e Biópsias.
Em alguns casos, quando a cirurgia não está indicada, outros procedimentos podem ser realizados para determinar o diagnóstico, como paracentese (na presença de ascite), toracocentese (na presença de derrame pleural), biópsia guiada por exame de imagem ou laparoscopia.
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Classificação e estadiamento
O câncer de ovário mais comum é é do subtipo Epitelial (90%), que se inicia nas células de revestimento da parte externa dos ovários. Esse tipo de câncer se divide em serosos de alto grau, subtipo mais comum (80%) e de pior prognóstico, seroso de baixo grau, endometrióide, de células claras e mucinosos.
Tumor de células germinativas do ovário é uma neoplasia que deriva de células germinativas primordiais, que são as células que dão origem aos óvulos. Apresentam crescimento rápido e respondem muito bem a quimioterapia, o que os caracterizam como tumores de bom prognóstico.
Os tumores do estroma de cordão sexual são tumores raros do ovário, que se originam no estroma ou nos cordões sexuais e produzem os hormônios.
O estadiamento do câncer de ovário é cirúrgico e, portanto, baseado nos achados anatomopatológicos da cirurgia.
Estágio I: o câncer está limitado ao ovário ou ovários.
Estágio IA: o câncer está em um ovário.
Estágio IB: o câncer está nos dois ovários.
Estágio IC: o câncer está em um ou ambos os ovários, mas também na superfície do ovário OU no fluido abdominal OU uma cápsula com fluido se rompeu.
Estágio II: o câncer está em um ou ambos os ovários e se espalhou para outras partes da pelve.
Estágio IIA: o câncer atingiu o útero, as trompas de falópio ou ambos.
Estágio IIB: o câncer atingiu a bexiga, o reto ou o cólon.
Estágio III: o câncer está em um ou ambos os ovários, se disseminou pelos gânglios linfáticos próximos OU para outros órgãos abdominais, exceto para o fígado.
Estágio IIIA: o câncer se espalhou pelo revestimento do abdome, não pode ser visto OU atingiu os gânglios linfáticos.
Estágio IIIB: o câncer se espalhou pelo abdome e é visível (mas tem menos de 2 cm).
Estágio IIIC: o câncer se espalhou pelo abdome e é visível (tem mais de 2 cm).
Estágio IV: o câncer atingiu o pulmão, fígado ou outros órgãos distantes.
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Tratamento
A doença pode ser tratada com cirurgia ou quimioterapia. A escolha vai depender, principalmente, do tipo histológico do tumor, do estadiamento (extensão da doença), da idade, das condições clínicas da paciente e se o tumor é inicial ou recorrente.
Idealmente a cirurgia é o procedimento inicial, mas ela está indicada apenas quando se é possível a ressecção de todo o tumor. Nesses casos, a quimioterapia é indicada após a retirada do tumor (quimioterapia adjuvante), com a intenção de reduzir o risco de reincidência da doença.
Se a cirurgia inicial não for indicada pela impossibilidade da retirada completa do tumor, a quimioterapia é realizada antes do procedimento cirúrgico (este tipo de tratamento é chamado quimioterapia neoadjuvante).
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Acompanhamento pós tratamento
O acompanhamento após o término do tratamento é fundamental e a frequência de consultas depende principalmente do estágio, tipo e grau do câncer. As consultas médicas para anamnese e exame físico são recomendadas a cada 3 a 6 meses durante os primeiros 2 anos e, a seguir, a cada 6 ou 12 meses.
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