Versão para profissionais de saúde
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Prevenção e Fatores de Risco
Os fatores de risco para tumores de SNC estabelecidos até o momento são:
- Predisposição genética hereditária - neurofibromatose tipos 1 e 2, esclerose tuberosa, retinoblastoma, síndrome de Li-Fraumeni, síndrome de Von-Hippel Lindau, síndrome de Turcot, síndrome de Gorlin e síndrome de Cowden
- Exposição à radiação ionizante - Aumenta o risco de gliomas, meningiomas e neurinomas e tumores da hipófise em:
- trabalhadores cuja função envolva utilização de radiação, pacientes submetidos à radioterapia, inclusive para outros tumores,
- pacientes submetidos a radiografia, radioscopia e tomografia em grande quantidade, pessoas expostas a radiações causadas por acidentes nucleares ou uso de armas nucleares;
- Imunodeficiências - hereditárias, primárias, adquiridas (Aids) ou relacionadas ao uso de drogas/medicamentos (imunossupressores, quimioterápicos, etc) e por repercussão sistêmica da presença de outro câncer.
- Infecções virais - alguns vírus aumentam o risco de desenvolver câncer do SNC, como o HIV, que aumenta o risco de Linfoma primário de SNC. Outros vírus têm sido estudados como fatores de risco, mas até agora o resultado é inconclusivo.
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As causas ambientais e ocupacionais relacionadas ao maior risco de tumores do SNC são:
- Exposição ocupacional a raios-x e gama;
- Exposição a arsênico, chumbo, mercúrio, óleo mineral, HPA e agrotóxicos;
- Trabalhar na indústria petroquímica (combustíveis), nas indústrias da borracha, plástico, gráfica, papel, têxtil e de agrotóxicos; refinaria, usina nuclear, produção e reparo de veículos a motor, na prestação de serviços elétricos e de telefonia e na agricultura (devido ao contato com agrotóxicos, solventes, diesel, poeiras, dentre outros)
- Campos magnéticos de muita baixa frequência (<3 mG) parecem estar ligados a glioblastomas em homens, mas não nas mulheres
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Estudos apontam evidências da relação entre exposição dos pais a agrotóxicos e desenvolvimento de câncer do SNC em seus filhos.
Muitos outros fatores de risco foram estudados e possuem evidências inconclusivas quanto aos tumores de SNC. Esses fatores que não se provaram como incrementadores reais de risco são: traumatismo cranioencefálico, tabagismo, uso de álcool e exposição a campos eletromagnéticos. Quanto ao uso de celular, muito se publicou recentemente a respeito da exposição aos campos de radiofrequência (celular) e linhas de alta tensão (ondas eletromagnéticas), porém nenhuma relação com aumento de risco foi estabelecida de forma definitiva. Há recomendações para reduzir a exposição prolongada ao celular e o uso por crianças, devido à possibilidade eventual de aumento de risco, mas apenas por precaução.
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Detecção precoce
Não existem evidências que respaldem exames de rotina ou rastreamento para tumores do Sistema Nervoso Central. Não existem protocolos de investigação de tumores do SNC em pacientes assintomáticos.
As estratégias para a detecção precoce do câncer são o diagnóstico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença) e o rastreamento (aplicação de teste ou exame numa população assintomática, aparentemente saudável, com o objetivo de identificar lesões sugestivas de câncer e, a partir daí encaminhar os pacientes com resultados alterados para investigação diagnóstica e tratamento) (WHO, 2007).
Rastreamento
O rastreamento do câncer é uma estratégia dirigida a um grupo populacional específico em que o balanço entre benefícios e riscos dessa prática é mais favorável, com maior impacto na redução da mortalidade. Os benefícios são o melhor prognóstico da doença, com tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Os riscos ou malefícios incluem os resultados falso-positivos, que geram ansiedade e excesso de exames; os resultados falso-negativos, que resultam em falsa tranquilidade para o paciente; o sobrediagnóstico e o sobretratamento, relacionados à identificação de tumores de comportamento indolente (diagnosticados e tratados sem que representem uma ameaça à vida) e os possíveis riscos do teste elegível (BRASIL, 2010, INCA,2021).
Não há evidência científica de que o rastreamento do câncer do sistema nervoso central traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado (NCI, 2021).
Diagnóstico precoce
A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de apresentação do câncer (WHO, 2017). Nessa estratégia, destaca-se a importância de a população e os profissionais estarem aptos para o reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos de câncer, bem como haver acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde (INCA, 2021).
O diagnóstico precoce do câncer do sistema nervoso central deve ser buscado por meio da investigação dos seguintes sinais e sintomas mais comuns (ACS, 2020; NCI, 2023):
- Perda de funções neurológicas
- Cefaleia
- Náuseas e vômitos
- Convulsões
- Desequilíbrio
- Visão turva
- Mudanças de comportamento
- Sonolência acentuada e coma.
Tumores em qualquer parte do cérebro podem aumentar a pressão dentro do crânio (pressão intracraniana). Isso pode ser causado pelo crescimento do próprio tumor, inchaço no cérebro ou bloqueio do fluxo de líquido cefalorraquidiano (LCR). O aumento da pressão pode levar a sintomas acima (ACS, 2020).
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento. Cadernos de Atenção Primária, n. 29. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_atencao_primaria_29_rastreamento.pdf. Acesso em: 25 jul. 2023.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA). Detecção precoce do câncer. – Rio de Janeiro : INCA, 2021. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document/deteccao-precoce-do-cancer_0.pdf . Acesso em: 25 jul. 2023.
NATIONAL CANCER INSTITUTE (NCI). Cancer types. Disponível em: https://www.cancer.gov/types/brain/hp/adult-brain-treatment-pdq Acesso em: 01 ago. 2023.
AMERICAN CANCER SOCIETY (ACS). Brain and Spinal Cord Tumor in Adults Early Detection, Diagnosis, and Staging. Last Revised: May 5, 2020. Disponível em: https://www.cancer.org/content/dam/CRC/PDF/Public/8569.00.pdf Acesso em: 01 ago. 2023.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Early detection. Cancer control: knowledge into action: WHO guide for effective programmes, module 3. Geneva: WHO, 2007. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/43743/9241547338_eng.pdf?sequence=1. Acesso em: 25 jul. 2023.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guide to cancer early diagnosis. Geneva: WHO; 2017. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241511940. Acesso em: 25 jul. 2023.
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Sinais e sintomas
Cefaléia – especialmente quando acompanhada por sinais de alarme como: surgimento de dor nova, mudança de padrão da dor, aumento de intensidade, aumento de frequência, padrão fixo da dor e vômitos associados.
Crises convulsivas - principalmente quando o paciente apresenta a crise pela primeira vez, sem diagnóstico prévio de epilepsia.
Presença de déficits neurológicos focais – alterações focais de força, motricidade, sensibilidade; déficits visuais ou auditivos; disfunções cognitivas (alterações de escrita, de linguagem, de cálculo, de raciocínio, e outros); alterações comportamentais (apatia, agitação ou agressividade); incoordenação motora; desequilíbrio; alteração da marcha.
Rebaixamento do nível de consciência – torpor, coma
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Diagnóstico
A história do paciente (anamnese) e o exame físico e neurológico com alterações sugestivas são o ponto de partida para a suspeição de tumores do SNC.
Diante da suspeita clínica, quando estão presentes as alterações descritas acima, se torna mandatória a investigação diagnóstica por meio de exames complementares de imagem em busca de neoplasias do SNC. Exames como a Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM) são as principais ferramentas diagnósticas. A realização desses exames com contraste é fundamental, e a possibilidade de realização de outros estudos especiais a partir deles (AngioTC, AngioRM, espectroscopia, permeabilidade, difusão, perfusão, funcional, tratografia) amplia ainda mais as chances de um diagnóstico conclusivo.
Além dos exames de imagem, alguns tumores necessitam de investigação diagnóstica complementar com exames laboratoriais (dosagens hormonais e de marcadores tumorais), campimetria visual e audiometria, entre outros. O estudo completo e acompanhamento desses pacientes inclui muitas vezes o seguimento com consultas e exames realizados por várias especialidades médicas distintas, visto a grande complexidade e variabilidade de acometimentos e apresentações.
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Classificação e estadiamento
A classificação dos tumores de SNC é complexa, não somente pela variedade de tipos / subtipos histológicos, mas também pela incorporação de biomarcadores genéticos na última revisão de classificação dos tumores de SNC pela OMS, em 2021. A associação do fenótipo molecular à histologia introduziu novos tipos e subtipos de lesões aos tumores já previamente descritos. Apesar de mantidos os principais grupos histológicos (Gliomas, Ependimomas, Tumores Embrionários, Meningeomas), atualmente a classificação dos tumores de SNC é definida pelo tipo histológico, localização e pela assinatura molecular da lesão.
A classificação completa dos tumores de SNC na população adulta e pediátrica pode ser acessada em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8328013/
Referências:
LOUIS DN et al. The 2021 WHO Classification of Tumors of the Central Nervous System: a summary. Neuro Oncol. 2021 Aug 2;23(8):1231-1251. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8328013/
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Tratamento
Atualmente, o tratamento das neoplasias do SNC perpassa todo o cuidado multiprofissional disponível. Envolve sempre as especialidades de combate direto às neoplasias de SNC - neurocirurgia, oncologia clínica e radioterapia - e também outros profissionais da saúde, como fisioterapeuta, fonoaudiólogo, enfermeiro e nutricionista. Também são necessárias várias outras especialidades médicas para os cuidados complementares, geralmente a oftalmologia, otorrinolaringologia, endocrinologia, neurologia e psiquiatria.
Após o diagnóstico de neoplasia de SNC, a primeira avaliação é usualmente feita pela Neurocirurgia, que avalia a possibilidade e indicação de procedimento neurocirúrgico para exérese do tumor ou de fragmento de tecido para biópsia. Os próximos passos do tratamento e o prognóstico da doença vão depender do laudo histopatológico e da imuno-histoquímica. A avaliação da necessidade de tratamento adjuvante com quimioterapia e radioterapia é realizada pela Oncologia Clínica e Radioterapia.
O manejo envolve o atendimento ambulatorial sequencial e todo o suporte hospitalar. O seguimento integral do paciente com câncer de SNC envolve disponibilidade de atendimento em consultas sequenciais, passando por um completo parque de exames complementares (radiologia, medicina nuclear, laboratório, entre outros), estrutura de radioterapia, de patologia, de dispensação e administração de quimioterapia, além da estrutura hospitalar ampla, desde a internação, incluindo terapia intensiva, cirurgia e cuidados de suporte.
Referências:
NATIONAL CANCER INSTITUTE. Adult Central Nervous System Tumors Treatment –Health Professional Version. Disponível em: https://www.cancer.gov/types/brain/hp/adult-brain-treatment-pdq.
NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CARE EXCELLENCE. NICE Guideline Suspected cancer: recognition and referral. Published: 23 June 2015. Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/ng12.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Early detection. Geneva: WHO, 2007. (Cancer control: knowledge into action: WHO guide for effective programmes, module 3). Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/43743/9241547338_eng.pd....
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guide to cancer early diagnosis. World Health Organization, 2017. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/254500.
YOUMANS NEUROLOGICAL SURGERY - 6th edition - textbook
NIH (Nacional Câncer Institute - NCI): https://www.cancer.gov/
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Acompanhamento pós tratamento
O tipo histológico e o grau de ressecção cirúrgica são os principais fatores determinantes para o tempo de acompanhamento dos pacientes com neoplasia de SNC.
Pacientes com tumores benignos e submetidos a ressecção neurocirúrgica completa usualmente não necessitam de tratamento adjuvante com radioterapia e quimioterapia. Sendo assim, podem ser acompanhados por 5-10 anos e, na ausência de recidiva tumoral nesse período, podem receber alta do tratamento oncológico.
Já em pacientes com tumores malignos, ou tumores benignos com doença residual, o acompanhamento é prolongado, com reavaliações semestrais ou anuais, definidas a partir do comportamento biológico da neoplasia e da avaliação médica.
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Prevenção e Fatores de Risco